'Vibes, Boas Vibrações' completa 37 anos
Jeff Goldblum e Cyndi Lauper estrelam essa comédia como dois videntes que, enganados por um especialista que procura um templo de ouro escondido no Equador, Nick e Sylvia vão para encontrarem uma lendária cidade de ouro.
Cyndi Lauper escreveu sobre a experiência de ser protagonista pela primeira vez em um filme em sua biografia:
COMECEI A RECEBER ROTEIROS DE PRODUTORAS CINEMATOGRÁFICAS, PORQUE, NA época, elas estavam buscando cantoras pop, como a Madonna, para estrelar filmes. Eles queriam que eu aparecesse no filme Girls Just Want to Have Fun [Dançando na TV] – você se lembra disso, com Sarah Jessica Parker? Era sobre garotas que entram em uma competição de dança. Quando li o roteiro, pensei: “Como você ousa pegar o que fiz, vestir as personagens como eu e depois escrever esse roteiro idiota sobre nada, sendo que tudo que lutei para fazer foi sobre algo?”. Não podia acreditar.
Depois recebi um telefonema com um convite para fazer Vibes – Boas Vibrações, um filme de Ron Howard. Eu era e sou uma grande fã dele. Achei incrível o jeito com que ele usou atores como Don Ameche e Hume Cronyn em Cocoon. No entanto, eu disse: “Ouça, adoraria fazer o filme, mas posso mandar muito mal. Por que vocês não fazem um teste de elenco e veem se sou boa o suficiente? A última coisa que quero é estar num filme e não prestar”. Eles disseram que tudo bem, e Ron Howard veio me ver em meu apartamento em Nova York. Ele era muito legal e pé no chão. Quando eu estava fazendo o teste de elenco, fiquei pensando: “Meu Deus, estou sendo dirigida por Ron Howard”.


Queria estar bem no filme, então fiz aulas em uma escola de beleza para aprender a fazer “finger waves”, ondulações no cabelo, e aprimorar minhas outras habilidades de esteticista. Também comecei a estudar com médiuns para descobrir como eles faziam o trabalho deles. Todos me diziam: “Você será uma líder espiritual”, e eu pensava: “Sinceramente, duvido disso. Não vou fazer nada iogue no curto prazo”.
Conheci uma médium, Ginny Duffy, que minha professora de canto e amiga me apresentou quando eu lhe disse que estava estudando mediunidade. Ginny era diferente das outras porque fazia regressão a vidas passadas, quando você usa a hipnose para recuperar o que acreditam ser memórias de vidas passadas. Ginny também conectava as pessoas aos seus anjos. Usei alguns de seus maneirismos quando estava me comunicando com os espíritos no filme.
Eu sempre tinha sonhos interessantes que pareciam mergulhar em minhas próprias vidas passadas, então a ideia toda não parecia tão estranha para mim. Por exemplo, uma vez, quando eu estava dormindo perto de Dave Wolff, sonhei que era uma condessa no Mundo Novo, num lugar muito quente, e eu andava em uma carruagem até uma fortaleza. Quando saí para caminhar, eu era menor que o normal. Então alguém me agarrou, um tipo de Zorro sombrio – era Dave. Em outra ocasião, sonhei que era holandesa, de outro tempo, e eu tinha conseguido um pequeno exército para perseguir um ladrão ordinário, mas na verdade eu gostava dele – é por isso que eu o estava perseguindo. Mais uma vez, quando acordei, percebi que era Dave. Então pensei: “Tudo bem, regressão a vidas passadas, isso é interessante”. Foi assim que minha cabeça estava explicando tudo. Sempre fui atraída pelo fato de Dave ser um malandro que poderia levar qualquer um na conversa.

A produtora de filmes também me ofereceu uma preparadora de elenco incrível. O nome dela era Sondra Lee e ela era uma professora gentil e maravilhosa que realmente me orientava. Sondra foi atriz ao longo dos anos 1950 e 1960. Ela interpretou Tiger Lily em Peter Pan e a jovem na festa em La Dolce Vita. Em seu livro de memórias de 2009, I’ve Slept with Everybody [Dormi com todo mundo], ela disse que perdeu a virgindade com Marlon Brando – dá para imaginar?

É compreensível que Dan Aykroyd se sentisse assim. Por alguma razão, Dan decidiu sair e Jeff Goldblum entrou. Então, de repente, em vez de Ron Howard, eles contrataram outro cara cujo grande filme era Vila Sésamo – Onde está o Garibaldo?. Logo, eu estava sendo dirigida pelo diretor do Garibaldo, o que me fez sentir como o Garibaldo (fiquei pensando comigo mesma: “Apenas garanta que seu cabelo não fique tão grande”). Começamos a filmar na Califórnia em fevereiro de 1987 e passamos o verão e o outono filmando, incluindo duas semanas no Equador.
Infelizmente, Jeff Goldblum, com quem achei que seria fácil trabalhar, acabou sendo um pouco diferente e fazia coisas que eu achava irritantes. Não sei por que ele tinha que ser assim, mas ele era horrível. Era um sujeito estranho que, se soubesse o que você faria na tela, faria algo para impedir. Por exemplo, fizemos uma cena de amor e, de repente, ele colocou suas mãos grandes e gordas em todo meu rosto. Então peguei suas mãos e as puxei para baixo, e ele ficou todo chateado. Eu disse: “Deixa eu te dizer uma coisa – não gosto de ninguém tocando meu rosto, ok? Isso é um grande erro”. Ele também tinha algum tipo de processo de atuação estranho: antes de entrar em uma cena, folheava um livro, tagarelava baixinho e ficava nervoso, como se estivesse tendo um colapso nervoso. Bom, uma vez fizemos uma cena com um ator coadjuvante mais velho chamado Bill McCutcheon, que interpretou o curador do museu. Antes de começarmos, Jeff ficou lá e fez a coisa toda do colapso nervoso de novo. Perguntei ao Bill: “Você acha isso muito desconcertante?”. Ele disse que toda vez que Jeff fazia isso ele não conseguia se lembrar de suas falas.

Jeff era um cara interessante, a filmagem poderia ter sido ótima. Daria para pensar que nos daríamos bem. Quero dizer, ele é um cara da arte. Tenho certeza de que ele pensou quem diabos eu era para ser a protagonista de um filme sendo que ele batalhou a vida inteira para conseguir papéis. Mas ele era o outro protagonista, então qual era o problema? Talvez algo estivesse acontecendo em sua vida. Seu comportamento parecia refletir algum tipo de fragilidade emocional, mas eu não conseguia entender o que o deixava infeliz. Na época, ele estava com a garota mais rock’n’roll, a atriz Geena Davis. Eu a achava incrível. Ela me ensinou uma música sueca que canto no filme, porque ela tem raízes suecas.
De toda maneira, batalhei para contratarem Peter Falk como terceiro protagonista, porque achei que seria bom ter dois homens de cabelos escuros ao lado do meu cabelo claro, e falamos no mesmo ritmo, mas, quando ele apareceu no set, descobri que ele era um pouco excêntrico. Por exemplo, o operador de câmera me chamava e dizia: “Cyn, tenho uma boa luz em você. Fique nesse ponto e diga essa fala para mim”. Então Peter aparecia e dizia: “Não dê ouvidos a ele. Você não precisa ficar nesse ponto. Apenas faça isso”. Eu pensava: “Mas se ele gastou tempo para me iluminar e posicionar tudo, por que eu não deveria ficar no lugar?”. No entanto, atuar com Peter Falk era extraordinário, algo tão louco quanto ele. Outras coisas malucas aconteciam no set também. Certa vez um produtor desceu e eu o ouvi dizer: “Você transaria com ela? Ela é transável?”. Ou às vezes eu começava a trabalhar e um dos produtores ficava bem na minha linha de visão, olhando diretamente para mim, assistindo, enquanto a câmera estava ligada. Era incrivelmente perturbador e estranho, então eu tinha que dizer: “Ele está bem na minha linha de visão – ei, você pode parar com isso?”. Então, durante todo esse tempo, Jeff estava passando por seja lá o que for. E Peter Falk – esse cara rebelde totalmente anarquista que eu adorava, no fim, se juntou a Jeff contra mim. Eu estava muito triste por eles terem me excluído. Porém, talvez isso fosse melhor para o papel – quero dizer, minha personagem deveria ter um pouco de tensão com Jeff. 

A luta pelo poder e os traumas que ocorreram por baixo do filme superaram o que poderia ter sido um filme divertido, feliz e engraçado. Sabe quando falei sobre querer criar músicas que vão atrair o espírito? Sempre achei que atuar seria parecido com isso. Seria como chamada e resposta – alguém diria algo para você e você responderia, certo? Fazer uma conexão? Não. Na época em que comecei a trabalhar no cinema, a atuação passou a ser sobre closes e atores que basicamente pareciam querer atuar sozinhos. Não havia senso de unidade, e foi muito desanimador para mim porque é com isso que eu estava acostumada como musicista. Eu queria que eles fossem meus amigos, em vez disso eles eram cretinos competitivos e não pude deixar de pensar: “Fiz isso para poder trabalhar com Ron Howard, e ele nem está aqui, está trabalhando na Nova Zelândia, e eu também desejaria estar na Nova Zelândia, em vez de aqui”.
Porém, nem todo mundo era assim. O figurinista e as pessoas de maquiagem e cabelo eram maravilhosos. E a mulher que costurava as roupas era incrível. Aprendi muito com ela e com o pessoal de câmera e iluminação. Eu sempre os observava quando era possível, para ver o monitor para o qual eles olhavam, porque aquele era o lugar onde a gente entraria e isso sempre foi mágico. Quando você entrava, você se tornava a imagem e isso era como pintar. Era como emoldurar algo quando você pinta uma imagem. Eu estava bastante animada em absorver tudo no set e isso tornava tudo um pouco suportável.
E havia muita coisa insuportável, por exemplo, quando o roteirista do filme queria que eu tirasse a roupa em uma cena. Eu disse: “Primeiro de tudo, eu não tenho esse tipo de imagem. E, em segundo lugar, por que não tem um cara tirando a roupa?”. Por fim, descobri que poderia usar corpete para parecer meio bonitinha e nua, mas não completamente nua. E eu adorava fazer comédia física. Por exemplo, em uma cena entrei em transe e comecei a cantar, e Jeff e Peter me pegaram e me carregaram enquanto eu ainda estava cantando. Tentei com afinco ficar absolutamente dura. Adorei porque era como algo rotineiro dos Irmãos Marx. Sabe o que foi mais legal? Arranjei um gato enquanto estava filmando – meu gato maravilhoso, Nick, que me deu muitos anos de alegria e amor.
Infelizmente, enquanto trabalhava no filme, fiquei com endometriose de novo, então me submeti a outra operação em Los Angeles. Em seguida, a Columbia Pictures, a produtora de filmes, queria que eu escrevesse uma música para o filme Vibes, então fiquei em Los Angeles para encontrar o que escrever. No começo, escrevi uma música com um ritmo mais lento chamada “Unconditional Love”, com Billy Steinberg e Tom Kelly, mas o diretor da Columbia disse: “Esse filme é uma comédia – não dá para ter uma balada”. Dessa forma, Dave Wolff propôs que eu cantasse “Hole in My Heart (All the Way to China)”, escrita por Richard Orange. Eu disse: “Mas esse filme não é sobre a China”. Ele disse: “Sim, mas essa é a piada. É muito maluco”. Reorganizei a música e a fiz soar como a música de que eu gostava – meio punk, forte e rápida. Entretanto, quando ela foi lançada, as emissoras de rádio acharam que era muito pesada para elas e não tocavam. Elas preferiam tocar baladas. E eis a questão: elas teriam tocado “Unconditional Love”. Toda vez que eu falhava era porque eu não ouvia meu pressentimento inicial e tentava satisfazer outras pessoas. (É por isso que quando conheci Lady Gaga para fazer a campanha Viva Glam, da MAC, eu disse a ela: “Não dê ouvidos a ninguém. Seja qual for a criação que você tenha na cabeça, faça, porque agora é a sua hora e, se você desistir, não vai conseguir fazer isso”.) Quando Vibes saiu, em 1988, me mataram nas críticas. Eles chamaram o filme de Bad Vibes e afirmaram que minha carreira nunca se recuperaria. Mas agora, quando vejo o filme, honestamente, não acho que fui mal. Para dizer a verdade, acho que fiz um bom trabalho. Minha atuação foi muito natural. O filme tinha um ritmo animado, não era engessado, era muito engraçado e peculiar. Não era para ser Shakespeare. Era para ser apenas uma comédia leve, uma coisinha prazerosa para tirar sua mente do seu dia monótono, sabe? Mas o filme foi um fracasso em todos os sentidos. Provavelmente não fui feita para trabalhar em filmes. Eu estava destinada a fazer o caminho que estou fazendo. Acontece que Vibes realmente prejudicou minha carreira, o que algumas pessoas aceitariam, mas eu não consegui aceitar. E isso também afetou meu relacionamento com Dave, porque ele não era apenas meu namorado, era meu empresário.
Data de lançamento: 5 de agosto de 1988 (EUA)
Diretor: Ken Kwapis
Produtoras: Imagine Entertainment, Columbia Pictures
Autores: Babaloo Mandel, Deborah Blum, Lowell Ganz
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